Quarta-Feira de Cinzas

Cinzas

1ª Leitura – Jl 2,12-18
Salmo – Sl 50 (51), 3-4. 5-6a. 12-13. 14.17 (R.Cf.3a)
2ª Leitura – 2Cor 5,20-6,2
Evangelho – Mt 6,1-6.16-18 

“Convertei-vos e crede no Evangelho.”

“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1‘Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. 2Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. 3Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, 4de modo que, a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa. 5Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. 6Ao contrário, quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa. 16Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo: Eles já receberam a sua recompensa. 17Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, 18para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa.”


Comentário por Padre Simeão Maria, fmdj.

A Quaresma é o tempo da grande convocação de todo povo de Deus, para a purificação e santificação realizada pelo Salvador Jesus Cristo. A Quaresma inicia-se com Quarta-feira de Cinzas para nos conduzir até a Semana Santa, até o Tríduo Pascal na quinta-feira da Ceia do Senhor. Um tempo de grande importância e significado para toda vida cristã, que como vida batismal é chamada a realizar uma adesão sempre mais aprofundada e manifestar de forma mais intensa e mais clara o dom recebido no Batismo. Se com o Sacramento do Batismo nos tornamos filho(a) de Deus, então como Cristãos, estamos empenhados e dedicados a viver sempre mais como filho(a), imitando o Filho Unigênito que o Pai, em seu apaixonado amor por nós enviou ao mundo.

Quaresma é tempo de conversão, que envolve toda a nossa vida. Tempo de voltar para Deus, de mergulharmos na Sagrada Escritura, tempo de valorar o silêncio. Jesus indica-nos três colunas da vida ascética para trabalharmos a conversão: a esmola, a oração e o jejum, que para Ele, não é simplesmente algo externo desprovido de sentido, mas que reflete o interior, a transparência perante Deus. Jesus pede aos seus discípulos uma justiça superior à dos escribas e fariseus, mesmo quando praticam as mesmas obras: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles…” (v.1). Se não fizermos as nossas boas obras com reta intenção somos hipócritas na frente de Deus, agimos como atores no teatro, como comediantes.

É a palavra de Deus que nos orienta para vivermos a Quaresma de forma frutuosa, como tempo favorável, para colaborar com mais afinco com a graça de Deus. Portanto, penitência e arrependimento não são caminhos de tristeza, de depressão, mas caminho de alegria, que nos leva a reconhecer a nossa condição de pecadores, a abrir-nos ao amor e a misericórdia do Pai, que em seu Filho Jesus doa-nos a verdadeira paz e a reconciliação no amor. Renovados pelo amor podemos viver na presença de Deus nosso Pai, cumprindo tudo que lhe agrada, recebendo a auxílio, ou seja, auxiliados pelos irmãos e auxiliando-os para a glória do Pai. Jesus insiste conosco na retidão interior proporcionada pela intimidade com o Pai. Era essa a atitude interior do próprio Senhor, que passava noites em oração com o Pai. Jesus não fazia nada para ser admirado ou para aparecer.

Cinza e pó

Quem sou eu? Cinza e pó. O pó é levado pelo vento. Assim acontece com a minha pobre natureza. Estou exposto a todo vento de tentação. A minha vontade é tão móvel, voadora como o pó. Em que posso orgulhar-me? O sábio pergunta, por que é que cinza e o barro se orgulham: “ Por que se ensoberbece quem é terra e cinza… (Eclo 10,10). O nosso pai na fé Abraão dizia: “Sou bem atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza” (Gn 18,27). No entanto falou com Deus com humildade e confiança. Tal deve ser a celebração do dia em que somos marcados com alguns fragmentos de cinza em nossa cabeça. Devo lembrar-me todos os dias da minha fragilidade. A cinza é um sinal que vai apagar-se, mas o seu significado deve ficar gravado em minha memória. No trabalho e no empenho para colaborar com a graça de Deus e identificar com o seu Filho Cristo Jesus.

Na Quarta-Feira de Cinzas na Igreja antiga dava-se início da penitência pública na Igreja, isso nos primeiros séculos. Era o tempo da Instrução dos Catecúmenos, daqueles que preparavam para o Batismo na Vigília da Páscoa. Um aspecto marcante na Quaresma é a dimensão comunitária  das celebrações, as orações, o reviver a Paixão junto com Jesus na Via Crucis, a postura de seriedade, a conversão ao Senhor da glória. O mistério da Paixão e Morte e Ressurreição do Senhor é prefigurado nos 40 anos do povo de Israel no deserto, os 40 dias de jejum de Moisés e a peregrinação do profeta Elias até o monte Horeb, o monte de Deus. O próprio Senhor passou 40 dias de jejum. Eis que o tempo da Quaresma marca a nossa vida como tempo de renovação e de regeneração em nossa missão de batizados. Em nosso peregrinar para a Páscoa definitiva.  Como Igreja que caminha, temos a presença de Maria, ela é a Mãe de todo caminhante que busca manter-se no caminho, e ao mesmo tempo, ela mostra o caminho – HODOGHITRIA.