Maria faz parte da cruz

Maria estava aos pés da cruz. “Junto à cruz de Jesus, estava de pé sua mãe” (João 19, 25).

Maria estava lá, naquela cruzMaria era muito mais que aquele lugar que cheirava a injustiça, dor, morte. Maria era mãe, filha, esposa. Era menina e rainha. Era escrava e pobre.

Nesse mesmo lugar, havia muitas pessoas: soldados, curiosos, simples espectadores, escribas, fariseus, amigos e inimigos de Jesus. Muitos estavam lá de passagem. Não ficaram lá para sempre. Quando tudo acabou, voltaram para suas casas. Poucos tiveram suas vidas transformadas por ter estado lá naquele dia.
 
Maria, no entanto, ficou para sempre aos pés da cruz. Esse “estar” transformou seu coração de mãe. Hoje, ela continua estando ao lado da cruz. Essa ferida de tanta dor engrandeceu sua alma e a tornou navegável para os homens.
 
Seus pés ficaram pregados na terra, no mais profundo. Seu rosto permaneceu virado em direção ao céu, olhando para a luz escondida na morte. Sua alma ficou pregada na cruz de Cristo para sempre, unida ao seu Filho, atada como esposa.
 
São Bernardo disse a Maria: “Esta espada não teria penetrado na carne do teu Filho sem atravessar a tua alma. A cruel espada que abriu seu lado, sem perdoá-lo mesmo depois de morto, não chegou a tocar sua alma, mas sim atravessou a tua”.
 
Maria é essa mulher sólida que não se deixa levar pelos ventos, pelos medos, pela vida. Ao olhar para ela, sentimos nossa própria fraqueza, nossa vulnerabilidade, nossa instabilidade. Nosso atos e palavras são fugazes.
 
Quantas vezes não estamos onde devemos estar! Nossas palavras não realizam atos. Nosso amor não se expressa na vida. Não somos o que queremos ser. Deixamo-nos levar pelo vento, estremecemos diante das cruzes do caminho, caímos e não conseguimos nos apoiar uns nos outros.
 
Olhar para Maria é pedir o dom de saber estar na vida como ela esteve. “Estar” enraizado significa estar ancorado no mais profundo da vida, no mais profundo de Deus. Entre o céu e a terra. No céu e na terra. Estar tem uma conotação de eternidade.
 
Maria nunca desceu da cruz de Jesus desde aquele momento. Lá, ela abraça seu Filho e abraça todos nós. Ela não está de passagem pela nossa vida. Não sai correndo, não finge que não viu: ela se detém diante de nós.
 
Nesse gesto, insignificante para muitos, Maria se doa. Não se vê o movimento. Está contido em todo o seu amor, que se dá. Mas esse “estar” de Maria vai muito além daquele madeiro. É um amor que não fica preso à cruz. É um amor que toca as pessoas e as acompanha no caminho da vida.
 
Maria vem até nós. E seu amor crucificado se torna um amor que nos levanta, que nos carrega e sustenta nossas vidas. O amor de Maria se coloca em caminho, torna-se peregrino. Seu “estar” se faz encontro, movimento, vida.
 
Ela está em nós, conosco, ao nosso lado, aos pés da nossa cruz, caminhando conosco. É e está ao nosso lado.