9º Domingo do Tempo Comum

a-cura-do-homem-de-mao-seca

1ª Leitura – Dt 5,12-15
Salmo – Sl 80,3-4.5-6ab.6c-8a.10-11b (R. 2a)
2ª Leitura – 2Cor 4,6-11
Evangelho – Mc 2,23-3,6

“O Filho do Homem é senhor também do sábado.”

23Jesus estava passando por uns campos de trigo, em dia de sábado. Seus discípulos começaram a arrancar espigas, enquanto caminhavam. 24Então os fariseus disseram a Jesus: ‘Olha! Por que eles fazem em dia de sábado o que não é permitido?’ 25Jesus lhes disse: ‘Por acaso, nunca lestes o que Davi e seus companheiros fizeram quando passaram necessidade e tiveram fome? 26Como ele entrou na casa de Deus, no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote, comeu os pães oferecidos a Deus, e os deu também aos seus companheiros? No entanto, só aos sacerdotes é permitido comer esses pães’. 27E acrescentou: ‘O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. 28Portanto, o Filho do Homem é senhor também do sábado’. 3,1Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca. 2Alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo. 3Jesus disse ao homem da mão seca: ‘Levanta-te e fica aqui no meio!’ 4E perguntou-lhes: ‘É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?’ Mas eles nada disseram. 5Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: ‘Estende a mão’. Ele a estendeu e a mão ficou curada. 6Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo.”


Comentário por Padre Simeão Maria, fmdj.

O Evangelho deste domingo traz a tona a temática da instituição do sábado, mostra-nos que, quando se faz uma interpretação demasiadamente rigorosa dos preceitos da Lei, ela deixa de cumprir a sua missão de estar ao serviço do homem de cada tempo. Jesus convida-nos, por isso, a posicionar-nos ao serviço dos necessitados, tendo em conta que a lei foi feita para o homem, para a liberdade, não para fazer do homem um escravo. É um convite a vivermos não do preceito, mas da Lei do amor que assumimos no nosso coração. O evangelista Marcos convida-nos a centrar-nos nas palavras de Jesus que ajudam a interpretar a sua liberdade diante da instituição do sábado judaico: ‘O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. Portanto, o Filho do Homem é senhor também do sábado’ (Mc 2,27-28); ‘É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?’ (Mc 3,4). Estas palavras de Jesus dão a interpretação dos episódios, bem como da forma como Jesus se posiciona diante da instituição de sábado em geral. Já na controvérsia de Mc 2,1-12 sobre o perdão dos pecados, a questão era do «poder» ou «autoridade» para o fazer. Da mesma forma, agora apenas nas palavras de Jesus, a relação de Jesus com o sábado exprime-se em chave de poder e autoridade, uma vez que Ele, «o Filho do homem, é também Senhor do sábado» (Mc 2,28).

A segunda linha de argumentação é a da total precedência das necessidades humanas, mesmo em relação ao sagrado: isto vale para a fome dos discípulos diante do sábado que é sagrado, como valeu para a fome de Davi e dos seus companheiros diante dos pães sagrados da proposição (pelo menos na forma como Mc 2,25-26 nos conta o episódio com alguns pormenores em relação a 1Sm 21,1-7) e valerá também para a cura do homem com a mão atrofiada diante da instituição do sábado. Diante do poder de Jesus e das necessidades humanas, as coisas sagradas não têm um valor próprio (nem o pão do santuário, no caso de Davi, nem o sábado, no caso dos discípulos de Jesus ou do homem com a mão atrofiada), mas existem para o bem da humanidade (os pães da proposição para alimentar Davi e os seus companheiros, o sábado para o homem e para Jesus); na interpretação de Jesus, é fundamental que o que é sagrado esteja ao serviço do homem. A par deste critério, se partirmos da formulação da pergunta retórica de Mc 3,4, na perspectiva de Jesus não há um agir neutro e ainda menos decisivas são as instituições: a lei é a da atenção ao outro, a quem sou chamado a fazer bem, salvando-lhe a vida, ou então posiciono-me diante dele para lhe fazer mal, causando-lhe a morte. Em ambos os momentos, Jesus escolheu fazer o bem e colocar-se ao serviço das necessidades humanas, satisfazendo-as, mesmo se isso lhe acarretasse a decisão das autoridades religiosas da época em tirar-lhe a vida.

É importante ter em conta que Jesus não retira qualquer importância ao sábado, enquanto dia consagrado a Deus, mas redireciona-o de modo a voltar à intuição inicial da Lei de Moisés, uma vez que «o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado» (2,27). Não está em causa uma interpretação libertina ou relativista do sábado, mas fazer dele o dia da relação com Deus que vem em auxílio de quem está em necessidade. Uma boa interpretação lê todos estes aforismos de Jesus em relação entre eles, de modo que o sábado esteja sempre ao serviço do homem, para fazer bem e salvar a vida; se, de fato, Jesus é o senhor do sábado, é para o recolocar ao serviço do homem e da salvação da vida.