BENTO P.P. XVI

Papa Bento XVI
Papa Bento XVI

As imagens de Ratzinger, que viaja muito fraco para dar conforto a seu irmão doente, nos lembram o que Nossa Senhora de Fátima revelou ser a única maneira de salvar o mundo. Trata-se de oferecer-se até o sacrifício da vida, o que Bento XVI falou antes de se retirar e que talvez nos parecesse pouco diante do ataque que a Igreja estava sofrendo.

As poderosas imagens de Bento XVI em uma cadeira de rodas que, aos 93 anos, decidiu visitar seu irmão George, provavelmente para a última despedida, falam por si só. O Papa visivelmente provado, sem força, mas com o rosto e os olhos de uma criança feliz. Eles são poderosos, porque enquanto o inimigo desviava a atenção lendo a viagem à Alemanha em uma chave política (havia rumores de que Ratzinger não voltaria ao Vaticano), o Papa se decidiu por uma jornada extenuante, colocando em risco sua saúde para confortar seu irmão doente, celebrando missa com ele e visitando o túmulo da família.

Papa Bento visitou seu irmão na Alemanha.A imagem dele, bem velho, mas sem máscara, cercado por homens jovens e saudáveis que a usavam, também é poderosa. Ratzinger, neste momento em que as pessoas têm medo da morte, disse sem palavras que a vida deve ser dada por amor. Porque a alegria da existência, mesmo frágil e velha, vem da oferta de si mesmo a Deus.

E essas imagens de um papa “calado” são mais eloquentes do que muitas palavras. Um pouco como os de João Paulo II, que não podia mais dizer nada, mas que, encurvado para a frente por sua doença, saudava a multidão apoiando-se na cruz, depois que por muitos anos tentou explicar o poder salvador do sofrimento. “O meu jugo é suave e meu peso é leve“, “escândalo para os judeus, loucura para os pagãos“, imersos em um hedonismo egoísta.

E sim, que ao se retirar para a vida enclausurada, Bento XVI nos havia avisado que sua escolha era por nós, que ele não nos estava abandonando. Mas nós não o entendemos e o criticamos, pensando que não era suficiente. Embora ele, durante sua última audiência geral, tenha tentado nos fazer entender que “não abandono a cruz, mas permaneço de uma nova maneira com o Senhor crucificado. Não exerço mais o ministério petrino, mas um serviço da oração e de adoração”.

Um serviço oneroso, que coincide precisamente na oferta de si mesmo. Aquilo de que Nossa Senhora falou em Fátima pedindo aos pastorinhos que entregassem sua jovem vida a Deus, para que o triunfo do seu Imaculado Coração começasse nos corações.

Mas a nós não nos parecia certo, quereríamos um líder que, pudesse continuar a defender e dar coragem a seus filhos diante da violência de um mundo cada vez mais sujeito ao poder do “príncipedeste mundo. E, de fato, a sua escolha monástica foi seguida pela tempestade, um ataque terrível do diabo ao barco de Pedro.

Portanto, seríamos falsos se disséssemos, em uma Igreja de homens efeminados e assustados, de não ter saudades das palavras viris de Ratzinger que nos davam orgulho de ser de Cristo. Mostrou-nos isso em seu rosto suave, mas corajoso, de alemão que aprendeu com seu pai a não chegar a um acordo com o poder e que, como seu pai, arriscou sua vida por não  seguir as ordens do regime nazista contrárias à fé.

Papa Bento e o irmão
Papa Bento e o irmão

Sete anos após sua renúncia, a Igreja hoje está mais abalada do que nunca, mas o poder dos gestos de Bento e suas escolhas misteriosas (incompreensíveis para os que não têm fé) mostram mais do que nunca que os ensinamentos de Ratzinger não eram ideologia, mas amor: que a vida é válida desde a concepção até a morte natural, que a saúde não deve se tornar o valor primário da vida cristã, que a fragilidade é um bem, que a família é o lugar onde se aprende a conhecer a Deus e, portanto, a se doar para homens. Tanto é assim que, quando a família não vive obedecendo ao Criador, causa desastres que afastam muitas pessoas da fé.

Portanto, Ratzinger lembrou que “as crianças devem aprender a orar na família … desde a tenra idade” a viver assim “em uma atmosfera da presença de Deus” e o fez por uma experiência de amor amadurecida por Deus através de seus pais. Tudo isso disse com compaixão a uma humanidade rebelde porque ferida. “Gostaria de convidar todos a renovar sua firme confiança no Senhor, a confiar-nos como filhos nos braços de Deus … Gostaria que todos se sentissem amados por esse Deus que nos deu seu Filho por nós“, gritou na Praça de São Pedro.

É assim que, entregando-se a Deus, primeiro sofrendo o ódio mundano e depois em silêncio (embora provavelmente veremos os verdadeiros frutos dessa oferta apenas no céu), Bento XVI nos faz querer ser melhores. Mas não da bondade do mundo, que é uma tolerância alegre, mas fria, feita de abraços e sentimentos expressos sem pudor. Mas sim o que o torna capaz de entregar humildemente até o sacrifício diário de si mesmo pelos inimigos.