Mas então o que devemos fazer?

Giovanni Zenone

Mas então o que devemos fazer? Devemos ceder à chantagem de um Estado criminoso e totalitário e, portanto, viver como todos vivem, como muitos vivem, porque se adaptam, obedecem, talvez com relutância, talvez contra a consciência?

Por que eles fazem isso? Pela família, pelo trabalho, pela carreira, uns para poder ir de férias, outros também por coisas nobres; para exercer o seu ministério, inclusive religioso; para evangelizar. Submetemo-nos a essas obrigações que são imorais, ilegais, frutos injustos de uma vontade que quer dobrar a nossa liberdade. Claro, as escolhas não são fáceis, mas Deus sabe ao que Ele nos chama? Vamos pensar no que aconteceu na época dos Macabeus, os 7 filhos Macabeus que são torturados, esquartejados e mortos na frente de sua mãe. O que a mãe deles lhes diz: Eu dei a vocês esses membros para estarem ao serviço de Deus e mesmo que os homens os tirem de vocês, porque querem que vocês sirvam ao homem, que vocês sirvam aos ídolos, não façam isso; e ela os vê todos torturados e mortos na sua frente e no final ela mesma oferece seus membros para sofrer o mesmo destino. (Cf.: 2 Macabeus 7)

Nestes dias assisti a um filme cansativo, difícil de ver, mas muito significativo “A vida escondida”. É a história verídica de um camponês que, não me lembro se da Áustria ou da Alemanha, foi chamado pelos nazistas para se tornar soldado e a certa altura lhe dizem que deve jurar lealdade ao Fuhrer, a Hitler, e ele diz não. Eu sou cristão, não juro lealdade ao Fuhrer e, por isso, ele vai para a prisão e sofre todos os tipos de maus-tratos. Mesmo o pároco e mesmo o bispo oferecem-lhe uma brecha para jurar com reserva de consciência; é a impressão que a igreja nos dá hoje! Mas muitas vezes aconteceu na história que a igreja, como instituição, não disse para fazer as coisas certas, mas as coisas que lhe permitiriam de se adaptar à forma dominante de sobrevivência.

Mas é para isso que Deus nos chama? Sobreviver para renunciar à nossa consciência, à nossa fé, para queimar um grão de incenso na estátua do rei Nabucodonosor ou na estátua de César? É isso que milhares de mártires fizeram? Não! preferiam morrer, ser torturados, desmembrados e comidos pelas feras, que a viver como todos vivem, ir trabalhar, ter uma carreira, uma família. Coisas lindas, claro, mas se isso tem que ser à custa da nossa fé, então não, nem mesmo se os homens da igreja nos dissessem, mesmo se o Papa nos dissesse. Somos chamados ao heroísmo, como diz Chesterton: só o que está vivo pode ir contra a maré; o que está morto, em vez disso, vai com a maré. Queremos seguir o fluxo para viver como todo mundo? Claro que é muito mais confortável, muito mais fácil. Na época da ditadura nazista e comunista, quase todos seguiam essa ordem, essa maré que dava emprego, dava segurança, moradia, quem sabe até dava honra. Mas aos olhos de Deus quem eram essas pessoas e aqueles bispos e cardeais que juraram fidelidade a Hitler? Na Itália 12 professores católicos não juraram lealdade ao Duce, entre eles o irmão do Papa João Paulo I, perderam o emprego e perderam a possibilidade de sustentar a família, assim como hoje se lhes tira a possibilidade de viver, eles são condenados à morte as pessoas que não querem ser submetidas à violência do Estado, violência inoculatória, condenados à morte. Isso é chamado de sentença de morte sub-reptícia porque tirar o trabalho e tirar o salário significa matar uma pessoa e sua família.

O que então devemos fazer? Capitulamos para sustentar a família? Essas são escolhas que todos devem fazer se forem católicos. Agarre-se a Cristo, agarre-se à verdade, indo contra a maré, não porque somos negacionistas, mas porque queremos seguir a verdade e não viver na mentira, neste castelo de mentiras que nos contam que agora está sendo desmascarado por aqueles que querem entendê-lo e querem viver na verdade, na justiça e no bem; mesmo que nos custe sangue, mesmo que nos custe a nossa carreira, mesmo que nos custe a nossa vida. Não só por motivos civis, porque somos bons cidadãos que queremos manifestar nos contra esta imunda ditadura, mas sobretudo porque temos um só rei: Cristo, e uma rainha: Maria e queremos segui-los.

Não aceitamos tudo que é imoral e que o Estado quer nos impor, isso é a vida real, isso é heroísmo, isso é santidade.

O resto é ceder a algo que se acontecer não sei mais como podemos ainda nos olhar no espelho e dizer que ainda tenho a dignidade de um homem e de um cristão

 

Giovanni Zenone

Diretor de Fé e Cultura da Italia