Assim fala um Bispo Católico

A esplêndida entrevista de S.E.R. Dom Carlo Maria Viganò sobre a pandemia e a Igreja

Vigano

O arcebispo Dom Carlo Maria Viganò, ex Núncio Apostólico nos Estados Unidos, concedeu uma longa e interessante entrevista a Michael J. Matt, publicada no The Remnant, na qual identifica em Covid-19 uma punição pelos pecados da sociedade e dos homens da Igreja. Um exame severo e compartilhável, diante do qual cada um de nós é chamado à penitencia, conversão e oração.

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P. Excelência, de que maneira o cristão deve avaliar a pandemia de Covid-19?

A pandemia de corona vírus, como todas as doenças e a própria morte, é uma consequência do pecado original. A culpa de Adão, cabeça da humanidade, privou ele e seus descendentes não apenas da Graça, mas também de todos os dons que Deus havia lhe dado na criação. Desse momento em diante, a doença e a morte entraram no mundo como castigo por desobedecer a Deus. A redenção anunciada no Protoevangelho (Gênesis 3), profetizada no Antigo Testamento e concretizada com a Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor redimiu Adão e seus descendentes da condenação eterna, mas deixou suas consequências como uma marca da queda antiga. E, esta marca, será definitivamente restaurada apenas na Ressurreição da carne, que professamos no Credo, e que ocorrerá antes do Juízo Final. Isso deve ser lembrado, especialmente nestes momentos em que os princípios básicos do Catolicismo são ignorados ou negados.

O católico sabe que as doenças e, portanto, também as epidemias, o sofrimento, a privação de entes queridos, devem ser aceitos com fé e humildade, também em inspiração por nossos pecados pessoais. Graças à comunhão dos Santos – através da qual os méritos de cada pessoa batizada também são comunicados a outros membros da Igreja – podemos oferecer essas provas também para o perdão dos pecados dos outros, para a conversão daqueles que não creem, para encurtar a purificação das almas sagradas do Purgatório. Um infortúnio como o covid-19 também pode ser uma preciosa oportunidade de crescer na fé e na caridade ativa.

Como você pode ver, limitar-se ao aspecto meramente clínico da doença – que obviamente deve ser combatido e curado – remove qualquer dimensão transcendente de nossa vida, privando-a desse olhar sobrenatural sem o qual é inevitável fechar-se em um egoísmo surdo e sem esperança.

P. Alguns membros da Hierarquia e sacerdotes disseram que “Deus não pune” e que considerar o Corona vírus como um flagelo “é uma ideia pagã”. O senhor concorda?

A primeira punição, como eu disse anteriormente, foi infligida ao nosso Progenitor. Mas como recita a Exultet – o hino que entoamos na noite do Sábado Santo: “O Felix culpa, qui talem ac tantum meruit habere Redemptorem!” (Feliz culpa que nos mereceu um tal Redentor!).

Um pai que não castiga mostra que ele não ama seu filho, mais, que não está interessado nele; o médico que observa indiferente o paciente piorando até a gangrena não quer a sua recuperação. O senhor é um Pai muito amoroso, porque nos ensina como devemos nos comportar para merecer a eternidade beata no Céu, e quando com o pecado desobedecemos aos Seus preceitos, Ele não nos deixa morrer, mas vem nos procurar e nos envia muito sinais – às vezes, muito severos, como é justo – para que nos possamos corrigir, arrepender, fazer penitência e recuperar a amizade com Ele. “Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando” (Jo 15, 14). Parece-me que as palavras do Senhor não dão origem a mal-entendidos.

Gostaria também de acrescentar que a verdade de um Deus justo que recompensa os bons e pune os iníquos faz parte dessa herança comum à lei natural que o Senhor instigou em todos os homens de todas as idades: um chamado irreprimível ao Paraíso terrestre, que também permite que os pagãos entendam como a fé católica é o comprimento necessário do que o coração sincero e bem disposto sugere. Surpreende-me que hoje, em vez de destacar esta verdade profundamente inscrita no coração de todo homem, aqueles que parecem ter tanta simpatia pelos cultos pagãos não aceitem a única coisa que a Igreja sempre considerou importante: atraí-los para Cristo.

P. Vossa Excelência acredita que existem pecados que provocaram a indignação de Deus de uma maneira particular?

Os crimes com que cada um de nós se mancha diante de Deus são um golpe de martelo nos pregos que perfuram as Mãos de Nosso Redentor, um chicote que rasgou a carne do Seu Santíssimo Corpo, um cuspe no Seu rosto amoroso. Se tivéssemos esse pensamento diante de nós, nenhum de nós ousaria pecar. E quem pecou, não pararia de chorar pelo resto dos seus dias. No entanto, esta é a realidade: em sua Paixão, o nosso divino Salvador assumiu, não apenas o pecado original, mas também, todos os nossos pecados, de todos os tempos e de todos os homens. E o mais maravilhoso é que Nosso Senhor quis enfrentar a morte na cruz, quando uma única gota de Seu preciosíssimo Sangue seria suficiente para nos redimir: “Cuius una stilla salvum facere totum mundum quit ab omnis scelere” (Pois que uma única gota faz salvar todo o mundo e apagar todo pecado), como nos ensina Santo Tomás de Aquino.

Mas além dos pecados cometidos pelos indivíduos, também existem os pecados cometidos pelas sociedades, pelas nações. O aborto que continua a matar crianças inocentes, mesmo durante a pandemia; o divórcio, a eutanásia, o horror do chamado casamento homossexual, a celebração da sodomia e das piores perversões, a pornografia, a corrupção dos menores, as especulações das elites financeiras, a profanação do domingo…

P. Posso perguntar por que Sua Excelência faz uma distinção entre as culpa dos indivíduos e as das Nações?

Santo Tomás de Aquino nos ensina que, assim como é dever do indivíduo reconhecer, adorar e obedecer ao Deus verdadeiro, assim a sociedade – composta de indivíduos – não pode deixar de reconhecer a Deus e garantir que suas leis permitam aos seus membros alcançar o bem espiritual a que se destinam. Nações que, não apenas ignoram a Deus, mas, o negam abertamente; que exigem que os sujeitos aceitem leis contrárias a moral natural e a fé católica, como o reconhecimento dos direitos ao aborto, a eutanásia e a sodomia; que trabalham pela corrupção de crianças, profanando sua inocência; que permitem o direito de blasfemar contra a Divina Majestade, não podem ser considerados isentos da punição de Deus. Assim os pecados públicos requerem confissão pública e expiação pública, se quiserem obter perdão público. Não esqueçamos que a comunidade eclesial, como uma sociedade também, não está isenta das punições celestiais, onde seus líderes são responsáveis por ofensas coletivas.

P. Você excelência quer dizer que também existem culpas da Igreja?

A igreja é em si mesma, sempre e infalivelmente, Santa, uma vez que é o Corpo Místico de Nosso Senhor. E seria não só imprudente, mas também, blasfemo pensar que a Instituição Divina que a Providência colocou na Terra como dispensadora da Graça e a única a arca da salvação pode até ser menos imperfeita. Os louvores que atribuímos à Santíssima Virgem – que é de fato Mater Ecclesiae – também se aplicam a Igreja: ela é a Mediadora das Graças, através dos Sacramentos; ela é mãe de Cristo, cujos membros ela gera;  Arca da Aliança, ou seja, guardião do Pão Celeste e dos Mandamentos; a Igreja é o refúgio para os pecadores, a quem ela concede perdão na Confissão; saúde dos doentes, a quem ela sempre dispensou seus cuidados; a Rainha da Paz, que promove entre os povos pregando o Evangelho. Mas também é “terribilis ut castrorum acies ordinata” (terrível como um exército em ordem de batalha), porque o Senhor deu a seus ministros o poder de expulsar os demônios e autoridade das Chaves Sagradas, graças às quais ela abre ou fecha os portões do Céu. E não vamos esquecer que a Igreja não é apenas a Igreja Militante na Terra, mas há a Igreja Triunfante e Purgante, cujos membros são todos santos.

Mas é verdade que, se a Igreja de Cristo é santa, ela pode ser pecadora em seus membros aqui na terra, e também em sua hierarquia. Nestes tempos difíceis, infelizmente, temos numerosos exemplos de clérigos indignos, como os escândalos de abuso por parte de clérigos e até de altos prelados, infelizmente. A infidelidade dos Sacros Pastores é escandalosa para seus confrades e para muitos fiéis, não apenas quando se trata de luxúria ou desejo de poder, mas também – e eu diria acima de tudo – quando isso afeta a integridade da Fé, a pureza da doutrina e a santidade da moralidade, mesmo passando por episódios de gravidade sem precedentes, como no caso da adoração do ídolo da pachamama no Vaticano. De fato creio que o Senhor está particularmente indignado com uma multidão de pecados e escândalos daqueles que deveriam ser um exemplo e modelo, como Pastores, do rebanho que lhes foi confiado.

Não devemos esquecer também que o exemplo oferecido por grande parte da Hierarquia não é um escândalo apenas para os católicos, mas também para muitas pessoas que, apesar de não terem a graça de pertencer a ela, a consideram um farol e um ponto de referência. Não é só isso: esse flagelo não pode eximir a Igreja, em sua própria hierarquia, de realizar um severo exame de consciência por ter se rendido ao mundo; não pode escapar do dever de condenar firmemente os erros que deixou desenfreados em seu seio a partir do Vaticano II, e que atraíram apenas punições à própria Igreja e ao mundo, porque precisamos nos arrepender e voltar a Deus.

Dói-me notar que, ainda hoje quando todos nós somos testemunhas da ira Divina que atinge o mundo, continuamos a ofender a Majestade de Deus, falando da “vingança da mãe terra que exige respeito”, como disse o Papa Bergoglio há alguns dias atrás em uma das suas últimas entrevistas. Em vez disso, é urgente pedir perdão pelo Sacrilégio perpetrado na Basílica de São Pedro, reconsagrando-a de acordo com as normas canônicas antes de Celebrar novamente o Santo Sacrifício. E também deve ser realizada uma solene procissão penitencial – mesmo dos estrelados liderados pelo Papa – que implorem a Misericórdia de Deus sobre si mesmos e sobre o povo. Seria um gesto de autêntica humildade, que muitos fiéis esperam, em reparação pelos pecados cometidos.

Como conter a consternação pelas palavras proferidas em Santa Marta durante a homilia na missa de 26 de Março pelo Papa Bergoglio? O papa disse “Que o Senhor não nos encontre no fim da vida e diga a cada um de nós: ‘Você se perverteu. Você se afastou da estrada que Eu lhe havia apontado. Você se prostrou diante de um ídolo’”. Ficamos completamente chocados indignados ao ouvir essas palavras, considerando que ele próprio cometeu um verdadeiro Sacrilégio diante de todo o Orbe, mesmo no Altar da Confissão de São Pedro, uma profanação, um ato de apostasia com o ídolo imundo e demoníaco da pachamama.

P. No dia da Anunciação de Maria Santíssima, os bispos de Portugal e da Espanha consagraram suas Nações ao Sagrado Coração de Jesus e Imaculado Coração de Maria. Irlanda e Grã-Bretanha fizeram o mesmo. Muitas dioceses e cidades, na pessoa de seus bispos e autoridades públicas, colocaram suas comunidades sobre a proteção da Virgem. Como você avalia esses eventos?

São gestos que são bom presságio, embora insuficientes para reparar nossas falhas e até agora ignorados pelos líderes da Igreja, enquanto o povo cristão clama em voz alta por um gesto solene e coletivo dos seus pastores. Nossa Senhora, em Fátima, pediu que o Papa e todos os Bispos consagrassem a Rússia ao Seu Imaculado Coração, anunciando infortúnios e guerras até que isso não acontecesse. Seus apelos continuaram sem ser atendidos. Os pastores se arrependem e obedecem à Santíssima Virgem! É vergonhoso e escandaloso que a Igreja na Itália não tenha se juntado a esta iniciativa!

P. Como o senhor julga a suspensão das celebrações que envolveram quase o mundo inteiro?

É um grande sofrimento, na verdade, eu diria o maior que se impôs aos nossos fiéis, especialmente aos moribundos, privando-os de recorrer aos Sacramentos.

Nessas situações, parece que a Hierarquia, com exceção de casos raros, não tinha escrúpulos em fechar igrejas e impedir a participação dos fiéis no Santo Sacrifício da Missa. Mas essa atitude de burocratas frios, de executores da vontade do Príncipe, agora é percebida pela maioria dos fiéis como um sinal perturbador de falta de fé. E como podemos culpá-los?

Eu me pergunto e tremo a dizê-lo – se o fechamento das igrejas e a suspensão das celebrações não é um castigo que Deus adicionou a pandemia? “Ut scirent quia, per quae peccat quis, per haec et torquetur”  – “A fim de que compreendessem que por onde cada um peca será punido” (Sap XI, 16). Ofendido pela negligência e desrespeito de muitos de seus ministros; indignado com as profanações do Santíssimo Sacramento, que perpetuam diariamente o hábito sacrílego de administrar a comunhão nas mãos; cansado de suportar canções vulgares e sermões heréticos, o Senhor acolhe, favoravelmente ainda hoje no silêncio de muitos Altares os louvores austeros e compostos de muitos sacerdotes que celebram a Missa de todos os tempos, aquela que remonta aos tempos apostólicos, e que ao longo da história representa o coração palpitante da Igreja. Levamos esse aviso muito a sério: “Deus non irridetur” (de Deus não se zomba).

Entendo e compartilho, é claro, o devido respeito pelos princípios básicos de proteção e segurança que a autoridade civil estabelece para a saúde pública. Mas, assim como a autoridade pública tem o direito de intervir em questões relativas ao corpo, a autoridade eclesiástica tem o direito e o dever de lidar com a saúde das almas, e não pode privar seus fiéis do alimento da Santíssima Eucaristia, muito menos da Confissão, da Missa e do Santo Viático.

No entanto, quando as lojas e restaurantes ainda estavam abertos, muitas Conferências Episcopais já haviam ordenado à suspensão das funções, sem que as autoridades civis o solicitassem. Essa atitude revela a dolorosa situação em que a Hierarquia se encontra disposta a sacrificar o bem das almas para agradar o poder do Estado ou a ditadura do pensamento único.

P. Falando em restaurantes abertos: como você avalia os almoços para os pobres que foram realizados nos últimos meses em locais de culto?

Para os católicos, a assistência aos necessitados tem um mecanismo próprio na virtude da caridade, isto é, no próprio Deus: “Deus caritas est” (Deus é amor). Amar o Senhor acima de todas as coisas, e o próximo por Sua causa, porque nos permite, de acordo com as bem-aventuranças do Evangelho, ver Cristo nos pobres, nos doentes, na prisão, nos órfãos. A Igreja sempre foi, desde o início, um exemplo brilhante nesse sentido, a ponto de os próprios pagãos serem edificadas. A história atesta as impressionantes obras de assistência estabelecidas, graças à munificência de seus fiéis, mesmo em tempo de hostilidades aberta do Estado, que confiscava os bens das Fundações pelo ódio que a Maçonaria tinha em relação a um testemunho tão claro dos católicos. Atenção aos pobres e marginalizados, portanto, não é uma novidade no novo curso de Bergoglio, nem é um monopólio de organizações ideologicamente alinhadas.

Mas é significativo que a ênfase em ajudar os pobres seja revelada, não apenas sem nenhuma referência sobrenatural, mas que seja limitada às obras da misericórdia corporal, evitando meticulosamente as da misericórdia espiritual. Não apenas isso: o último pontificado sancionou definitivamente a renúncia do apostolado, da natureza missionária da Igreja, também neste contexto, liquidando-o com o termo depreciativo de proselitismo. Se pensa em oferecer nutrição, hospitalidade e assistência médica, mas não nos preocupemos com nutrir, acolher e curar as almas daqueles que precisam, reduzindo assim a Igreja a uma ONG com propósito filantrópicas. Mas a Caridade não é uma variação da filantropia de inspiração maçônica, apenas encoberta por um vago espiritualismo, mas seu oposto; porque a solidariedade, como hoje é praticada, nega que exista uma só religião verdadeira e que sua mensagem salvadora deve, portanto ser pregada àqueles que ainda não fazem parte dela. Não apenas isso: devido aos desvios que entraram na Igreja com Concílio em matéria de liberdade religiosa ecumenismo, os órgãos de assistência social acabam confirmando as pessoas que lhe foram confiadas no erro do paganismo ou ateísmo, chegando ao ponto de oferecer locais de culto onde elas possam orar. Também vimos casos deploráveis de Missas, durante as quais, a pedido explícito do padre, em vez do Evangelho foi proclamado o Alcorão ou, para retomar casos recentes, foi dado a oportunidade de praticar rituais idólatras em uma igreja católica.

Acredito que a decisão de alocar igrejas para refeitório ou dormitórios para acolher pessoas necessidades é um fenômeno revelador dessa hipocrisia subjacente que, como no caso do ecumenismo, usa um pretexto aparentemente louvável – para ajudar os necessitados, acolher os refugiados, etc. – como uma ferramenta para realizar progressivamente o sonho maçônico de uma grande religião universal, sem dogmas, sem ritos, sem Deus. Usar uma igreja como boteco, na presença de prelados satisfeitos, que servem pizza ou costelas em batinas com faixa vermelha e avental, significa profaná-la; especialmente quando os que sorriem para os fotógrafos tomam cuidado para não abrir as portas do Palácio Episcopal àqueles que, no fundo, consideram úteis para busca de outros propósitos. Voltando ao que disse anteriormente, parece-me que mesmo esses sacrilégios estão na origem da pandemia e no fechamento das igrejas.

Parece-me também que, com muita frequência, se tenta tornar espetáculo a pobreza ou o estado de necessidade de tantas pessoas infelizes – como no caso de desembarques de imigrantes ilegais transportados por organizações de traficantes de escravos – com o único objetivo de pôr em movimento a indústria da hospitalidade, por trás dos quais estão ocultos, não apenas pequenos interesses econômicos, mas também, uma cumplicidade não confessada com aqueles que querem que a destruição da Europa Cristã comece da Itália.

P. Em alguns casos –– por exemplo, na Itália, em Cerveteri -– policiais interromperam a celebração de uma Missa. Como a Autoridade Eclesiástica se coloca diante desses Episódios?

O caso de Cerveteri foi talvez um excesso de zelo por duas guardas municipal, certamente enfatizado pelo clima alarmante que surgiu no início da epidemia. Mas deve ficar claro que, especialmente em uma nação como a Itália – na qual existe uma Concordata entre a Igreja Católica e o Estado – a autoridade exclusiva em locais de culto é reconhecida à Autoridade Eclesiástica e, portanto, teria sido mais do que necessário que a Santa Sé e o Ordinário local protestassem firmemente por uma violação dos Pactos de Ladrão, confirmada em 1984 e ainda válida. Mas ainda uma vez, o exercício da autoridade por parte dos Pastores – que deriva diretamente de Deus – se dissolveu como neve ao sol, demonstrando uma pusilanimidade que poderia um dia autorizar abusos muito piores. Aproveito esta oportunidade para solicitar uma condenação muito firme dessa interferência intolerável por parte da autoridade civil em questões de competência imediata e direta da autoridade eclesiástica.

P. O Papa Francisco convidou em 25 de Março a recitar o Pater Noster todos os cristãos, independentemente de serem católicos, para pedir a Deus o fim da pandemia, e ele sugeriu que mesmo aqueles que professam outras religiões poderiam se juntar a sua oração.

O relativismo religioso insinuado pelo Concílio cancelou a persuasão de que a Fé Católica é o único caminho da salvação e que Deus Uno e Trino, que adoramos, é o único Deus verdadeiro.

O Papa Bergoglio declarou na Declaração de Abu Dhabi que todas as religiões são desejadas por Deus: isso não é apenas uma heresia, mas uma forma de apostasia muito séria e uma blasfêmia. Porque dizer que Deus aceita ser adorado, independentemente de como Ele se revelou, significa frustrar a Encarnação, a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Nosso Salvador. Significa tornar inútil o propósito para o qual a igreja existe, a razão pela qual milhões de Mártires ofereceram suas vidas, porque existem os sacramentos, o sacerdócio e o próprio papado.

Infelizmente, quando justamente deveria ser espiada indignação à Majestade de Deus, há aqueles que pedem para orar a Ele juntamente com aqueles que se recusam a honrar Sua Santíssima Mãe no dia de sua festa.

Essa é a maneira mais apropriada de acabar com a pandemia?

P. Contudo também é verdade que a Penitenciária Apostólica concedeu indulgências particulares para os afetados pela infecção e para os que assistem física e espiritualmente os doentes.

Antes de tudo é necessário reafirmar vigorosamente que não é possível substituir as Indulgências aos Sacramentos. É necessário opor-se com a maior firmeza às decisões iníquas de alguns Pastores, que recentemente proibiram seus padres de ouvir as Confissões ou de administrar o Batismo. Essas disposições – juntamente com o veto de celebrar a missa e a suspensão das comunhões – são contra a lei divina e demonstram que Satanás está por trás de tudo isso. Somente o Inimigo pode inspirar provisões que causam a perda espiritual de muitas almas. É como se os médicos tivessem ordens de não dar tratamento aos pacientes com risco de vida.

O exemplo do episcopado polonês, que ordenou a multiplicação de missas para permitir a participação dos fiéis sem risco de contágio deve ser tomado por toda a Igreja se ainda sua hierarquia tem no coração a salvação eterna do povo cristão. E é significativo que, precisamente na Polônia, o impacto da pandemia seja menor que o de outras nações.

A doutrina das indulgências sobrevive aos ataques dos inovadores, e isso é em todo caso, uma coisa boa. Mas se o Romano Pontífice tem o poder de extrair de mãos cheias do inesgotável Tesouro da Graça, também é verdade que as indulgências não podem ser banalizadas, nem consideradas como se fossem vendas no final da temporada. Os fiéis também tiveram uma impressão semelhante por ocasião do último Jubileu da Misericórdia, pelo qual a indulgência plenária foi concedida em condições tais, de atenuar em quem a lucrava a consciência da sua importância.

Também surgiu o problema da confissão sacramental e da comunhão eucarística exigida para se beneficiar das indulgências, mas que nas normas emitidas pela Sacra Penitenciária escorrega “sine die” com um genérico “assim que for possível para eles”.

P. O senhor acredita que as dispensações relacionadas à absolvição geral em vez da absolvição individual podem ser aplicadas à atual epidemia?

A iminência da morte legitima o recurso das absolvições que a Igreja, em seu zelo pela salvação eterna das almas que lhe foram confiadas, sempre concedeu generosamente como no caso da Absolvição Geral que é ministrada aos militares antes de um ataque, ou por exemplo, quem está em um navio afundando. Se a emergência de uma unidade de terapia intensiva permite o acesso ao Sacerdote apenas em momentos limitados e nessas situações não é possível ouvir as Confissões individuais dos moribundos, acredito que a solução proposta é legítima.

Mas se essa norma deseja criar um precedente perigoso para estendê-lo ao uso comum, sem que haja perigo iminente para a vida do penitente, será necessário vigiar com a máxima atenção para o que a Igreja concede magnanimamente para casos extremos não se torne uma norma.

Também lembro que as missas transmitidas por streaming ou pela televisão não cumprem o preceito festivo. São uma maneira louvável de santificar o dia do Senhor, quando é impossível ir à igreja. Mas deve ficar claro que a prática sacramental não pode ser substituída pela virtualização do Sagrado, assim como é evidente que na ordem natural o corpo não pode ser nutrido olhando a imagem de um alimento.

P. Qual é a mensagem de Vossa Excelência para aqueles que hoje têm a responsabilidade de defender e guiar o rebanho de Cristo?

É indispensável e não pode ser adiada, uma conversão Real do Papa, da hierarquia, dos bispos e de todo o clero, bem como dos religiosos. Os leigos a reivindicam, enquanto sofrem à mercê da confusão pela falta de guias fiéis e seguros. Não podemos permitir que o rebanho que o Divino Pastor nos confiou para governá-lo, protegê-lo e levá-lo à salvação eterna seja dispersado por mercenários infiéis. Devemos nos converter, voltar a ser totalmente de Deus, sem compromissos com o mundo.

Os bispos devem recuperar a consciência de sua própria Autoridade Apostólica, que é pessoal, que não pode ser delegada a sujeitos intermediários, como Conferências Episcopais ou Sínodos, que distorceram o exercício do ministério apostólico, causando sérios danos à Constituição Divina da Igreja como Cristo a quis.

Paremos com os caminhos sinodais, paremos com uma incompreendida colegialidade, paremos com esse absurdo senso de inferioridade e bajulações em relação ao mundo; basta com o uso hipócrita do diálogo em vez da intrépida proclamação do Evangelho; basta com os ensinamentos das falsas doutrinas e com medo de pregar a pureza e a santidade da vida; basta dos terríveis silêncios ante a arrogância do mal. Chega de cobertura de escândalos ignóbeis: chega de mentiras, decepções e vingança!

A vida cristã é uma milícia, não uma caminhada despreocupada até o abismo. A cada um de nós, por causa da Ordem Sagrada que recebemos, Cristo pede conta das almas que salvamos e das que perdemos por não tê-las avisada e ajudada. Vamos voltar à integridade da fé, a santidade da moral, ao verdadeiro culto agradável a Deus.

Conversão e Penitência, portanto, como a Santíssima Virgem, mãe da Igreja, nos exorta. Pedimos a Ela, Tabernáculo do Altíssimo, que inspire nos Pastores esse ímpeto heroico pela salvação da Igreja e pelo Triunfo de seu Imaculado Coração.

                                                                                                                                                                     Domingo I da Paixão 2020