Apelo aos Bispos de Portugal pelo reinício das celebrações públicas

Apelo aos Bispos de Portugal pelo reinício das celebrações públicas

 

Naturalmente, o primeiro apelo que se pode fazer é o apelo à oração contínua e generosa por parte dos Católicos que, de modo absolutamente legítimo, anseiam pela reabertura das igrejas encerradas, pelo reinício das celebrações públicas e pela administração dos Santos Sacramentos. Por outro lado, urge tomar uma ação concreta, sugerindo-se, assim, que o presente apelo seja enviado, por e-mail, para a Conferência Episcopal Portuguesa e para os respectivos Bispos diocesanos e Párocos.

 15 de fevereiro de 2021
95.º aniversário da aparição do Menino Jesus à Ir. Lúcia

 

Ex.mo e Rev.mo Sr. Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, Eminências e Excelências Reverendíssimas,

Com os olhos postos em Pontevedra, local bendito em que, há pouco menos de um século, o Menino Jesus apareceu à Ir. Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, saudosa vidente de Fátima, para reforçar a necessidade da propagação da devoção dos Cinco Primeiros Sábados, com o fim de desagravar o tão ofendido Imaculado Coração de Maria, que é o próprio Coração da Santa Madre Igreja, da qual somos membros na qualidade de militantes, dirigimos este filial apelo a Vossas Eminências e Excelências Reverendíssimas.

Portugal e o mundo estão imersos, há um ano, no caos. Midiaticamente falando, por causa do coronavírus, que tanta distância tem criado, tantas relações têm dificultado, tantos medos, muitas vezes infundados, nos tem incutido e, até mesmo, afastado do centro das nossas vidas: Deus Nosso Senhor! A cada dia, acentua-se sempre mais o antropocentrismo que caracteriza as sociedades contemporâneas: o Homem é o centro do cosmos. Querem que nos tornemos “homens vitruvianos”, deixando de parte o fim para que fomos criados, isto é, dar glória a Deus por tudo aquilo que d’Ele recebemos e em tudo aquilo que nos é permitido operar

Precisamente há um mês, a 15 de janeiro, iniciou-se o “novo confinamento”. Dois dias antes, o Governo socialista, o mesmo que se regozija com a aprovação da lei da eutanásia, para espanto comum, não instituiu qualquer limitação à liberdade de circulação para os cidadãos que pretendessem ir à igreja, tanto para a oração pessoal como para a celebração da Santa Missa. Imediatamente no dia sucessivo, a Conferência Episcopal Portuguesa abalou o mais íntimo dos fiéis com um comunicado a anunciar a suspensão ou o adiamento, «para momento mais oportuno, quando a situação sanitária o permitir», dos Batismos, dos Crismas e dos Matrimónios. Uma semana depois, a 21 de Janeiro, uma nova nota da Conferência Episcopal «determina a suspensão da celebração “pública” da Eucaristia a partir de 23 de janeiro de 2021», excepção feita para as Dioceses de Angra e do Funchal. Por tudo isto, para além do caos psicológico, político, económico e social, estamos a passar por uma catastrófica orfandade espiritual generalizada. Num momento em que precisamos, mais do que nunca, da solicitude dos nossos Pastores e da intensificação da oração, tanto pessoal quanto comunitária, somos privados da Santa Missa, fecham-se as portas aos Baptismos e, deste modo, à salvação de tantas almas, tal como aos Matrimónios, potenciando as ocasiões de pecado mortal. Instalou-se um caos espiritual, que queremos combater com todas as forças disponíveis, nomeadamente com a arma da oração, a mesma que, no início do turbulento século XX, animou os Pastorinhos de Fátima, que se entregaram até ao último suspiro. Não nos acomodamos diante do coma induzido em que se encontra a Igreja em Portugal!

Assistindo-se à suspensão das celebrações e, em muitos casos, ao encerramento das igrejas, está-se a boicotar uma oportunidade privilegiada de conversão a tantas almas, considerando que o acesso aos Sacramentos é praticamente inexistente. Não podemos receber a Comunhão, os nossos filhos não podem receber o Baptismo, muitos de nós não podemos celebrar o Matrimónio, os nossos doentes, muitas vezes, morrem sozinhos e sem a absolvição sacramental. Enfim, assiste-se a tudo menos a um apelo à penitência, à conversão e à mudança de vida.

Eminências e Excelências Reverendíssimas, e se os hospitais decidissem encerrar? Se tanto elogiamos, e com justiça, a abnegação dos profissionais de saúde, porque que, pelo contrário, temos de assistir à passividade de tantos “médicos das almas”? Será o corpo mais importante do que a alma? Esta é uma situação sem precedentes, nunca na história da Igreja Católica se assistiu a um abandono das almas por parte do clero. Se nesta situação, incomparavelmente menos grave do que epidemias passadas, acontece algo assim, o que poderá acontecer, no futuro, em situações análogas ou mais violentas? «Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu vos aliviarei» (Mt 11, 28). Estarão estas palavras, proferidas pelo nosso Salvador, desatualizadas?

Não se iludam, Eminências e Excelências Reverendíssimas, tal conduta não beneficia em nada a saúde das almas, a principal causa da vossa vocação e do vosso ministério ordenado. Pode, isso sim, agradar ao mundo hodierno, mas nunca ao Criador! Afinal, somos criaturas, mas tendemos a comportar-nos como criadores.

Aproximando-se a Quarta-Feira de Cinzas e o tempo penitencial da Quaresma, que nos conduzirá à Páscoa gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo, apelamos a Vossas Eminências e Excelências Reverendíssimas que as igrejas sejam reabertas, que sejam retomadas as celebrações públicas e sejam administrados os Sacramentos, nomeadamente os do Baptismo, da Eucaristia, da Confissão, do Matrimónio e da Unção dos Enfermos. Assim agindo, não se aplicarão a nós as palavras que, em Pontevedra, o Divino Infante disse, a respeito dos Cinco Primeiros Sábados, à Ir. Lúcia: «É verdade, minha filha, que muitas almas os começam, mas poucas os acabam». E tantas são almas que inúmeras ações começam, mas muito poucas as que as terminam!

Assegurando a nossa filial oração, é este o apelo que fazemos a todos e a cada um de vós, Pastores da Igreja Católica, na certeza de que «as portas do Abismo nada poderão contra ela» (Mt 16, 18).