1º Domingo da Quaresma

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1ª Leitura – Gn 9,8-15
Salmo – Sl 24,4bc-5ab.6-7bc.8-9 (R. cf. 10)
2ª Leitura – 1Pd 3,18-22
Evangelho – Mc 1,12-15

“O Espírito levou Jesus para o deserto.”

“Naquele tempo, 12o Espírito levou Jesus para o deserto. 13E ele ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam. 14Depoi que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15“O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!”


Comentário por Padre Simeão Maria

Todos os anos, no primeiro domingo da Quaresma, o Evangelho proclamado fala sobre a tentação de Jesus no deserto. Esse ano a narração do evangelho de Marcos diz: “O Espírito levou Jesus para o deserto. E ele ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás. Vivia entre os animais selvagens, e os anjos o serviam” (vv. 12-13). O deserto é, na teologia de Israel, o lugar do encontro com Deus; foi no deserto que o Povo experimentou o amor e a solicitude do Senhor e foi no deserto que o Senhor deu a Israel uma Aliança. O deserto é também o lugar da “prova”, da “tentação”; da opção por Deus e ao seu projeto. Também, no deserto Israel sentiu a tentação de escolher caminhos contrários ao projeto de Deus. O “deserto” que foi conduzido Jesus, pelo Espírito, é portanto, o “lugar” do encontro com Deus, onde se vive a sabedoria; é o “lugar” da prova, onde se é confrontado com a tentação de abandonar Deus e de seguir outros caminhos.
Nesse “deserto”, Jesus ficou “quarenta dias” (v. 13a). O número “quarenta” é bastante frequente no Antigo Testamento. Muitas vezes refere-se ao tempo da caminhada do Povo de Israel pelo deserto, desde que deixou a terra da escravidão, até entrar na terra da liberdade; mas também é usado para significar “toda a vida”, 40 quer dizer, o tempo de uma geração. 

Durante esse tempo, Jesus foi “tentado por Satanás” (v. 13b). A palavra “Satanás” designava, originalmente, o adversário que, no contexto do julgamento, apresentava a acusação (Sl 109,6). Mais tarde, a palavra vai passar a designar uma personagem que integrava a corte celeste e que acusava o homem diante de Deus (Jó 1,6-12). Na época de Jesus, “Satanás” já não era considerado uma personagem da corte celeste, mas um espírito mau, inimigo do homem, que procurava destruir o homem e arruinar o projeto de Deus. O evangelista Marcos fala que foi o Espírito que levou Jesus para o deserto, em outras palavras, Jesus deixou-se ser dirigido pelo Espírito.  Ele enfrenta a tentação de Satanás com a força do Espírito Santo no momento crucial logo depois do Batismo, no início do seu ministério público como Messias, enviado pelo Pai. A tentação que Jesus enfrentou como Filho de Deus, mostra que o homem justo passa por tentações que são inevitáveis. São os momentos da vida, que as tentações não são instigações para o mal. Os momentos que devemos fazer escolhas concretas decisivas, que vamos ter como resultado, o fortalecimento da fé.

Quem quer crescer, buscar a perfeição no amor, purificar-se, revigorar na própria adesão ao projeto de Deus, não está isento das provações. O que acontece com os catecúmenos que fazem a preparação catequética para receber o batismo… São conscientizados sobre o enfrentar as provas com firmeza e fidelidade. Ao receberem o Espírito Santo, são robustecidos com a força da graça santificante, para enfrentarem as tentações, as dúvidas, as dificuldades de todas as espécies que vão surgindo na vida.  É o mesmo Espírito Santo que desceu sobre Jesus em forma de pomba, que o levou para o deserto para ser provado, que impele o neófito (neo batizado) para o deserto da vida para testemunhar a fé. Tendo sido inserido no corpo de Cristo (Igreja), se tornou membro do mesmo corpo e participante das dores e das alegrias do corpo.

O panorama da “tentação no deserto” fala-nos que Jesus, ao longo do caminho que percorreu no meio dos homens, foi submetido a um desafio de fidelidade ao projeto do Pai. Ele teve de escolher entre viver na fidelidade o projeto do Pai e fazer da sua vida um dom de amor total. Jesus viveu de forma absoluta a obediência ao Pai. Os seus discípulos são desafiados a fazerem a mesma escolha que ele fez. Seguir Jesus é imitá-lo no amor e na obediência as exigências do Reino. Ao dispor-se a cumprir integralmente o projeto de salvação que o Pai tinha para os homens, Jesus começou a construir um mundo novo, de harmonia, de justiça, de reconciliação, de amor e de paz. A esse mundo novo, Jesus chamava “Reino de Deus”. Nós aderimos a esse projeto e comprometemo-nos com ele, no dia em que escolhemos ser seguidores de Jesus.

Para que o “Reino de Deus” se torne uma realidade, o que é necessário fazer? Na perspectiva de Jesus, o “Reino de Deus” exige, antes de mais, a “conversão”. “Converter-se” é, renunciar a caminhos de egoísmo e de autossuficiência e centrar a própria existência em Deus. O “Reino de Deus” exige o “acreditar” no Evangelho.

“Tota pulchra es Maria et macula originalis non est in Te.”